O 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, não é apenas uma data marcada no calendário. É um lembrete histórico e político da centralidade da população negra na construção do Brasil e, ao mesmo tempo, um alerta sobre as desigualdades que persistem e se renovam.
A data homenageia Zumbi dos Palmares e simboliza uma luta que atravessa séculos, convocando a sociedade a refletir sobre liberdade, cidadania, dignidade e justiça.
Consciência Negra e educação: uma urgência permanente
No âmbito educacional, essa reflexão ganha ainda mais urgência. O país segue enfrentando desafios estruturais que impactam diretamente o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
- O Anuário Brasileiro da Educação Básica 2024 aponta que cerca de 40% dos estudantes de 8 anos não alcançam alfabetização plena.
- A PNAD Contínua 2023 registra aproximadamente 480 mil adolescentes fora da escola.
Esses números revelam que as desigualdades sociais atravessam intensamente o percurso formativo e reforçam a necessidade de políticas e práticas que compreendam as nuances da realidade brasileira.
A escola como lente e território de transformação
O 20 de Novembro funciona como uma lente que amplia a percepção da escola sobre si mesma.
Não basta reconhecer que há desigualdades: é preciso compreender como elas se expressam no cotidiano nas relações, nos materiais didáticos, nas expectativas projetadas sobre os estudantes e na maneira como cada criança ocupa (ou é impedida de ocupar) os espaços educativos.
Fortalecer essa consciência exige formar profissionais capazes de:
- identificar tensões históricas,
- nomear preconceitos,
- criar ambientes de pertencimento,
- garantir que todas as identidades possam florescer.
É um processo que envolve sensibilidade política, leitura crítica de mundo e compromisso ético.
Marco legal e repertório pedagógico
Esse movimento se articula ao marco legal que orienta a educação brasileira.
A Lei 10.639/2003, que institui o ensino obrigatório da história e cultura afro-brasileira, segue como um dos pilares mais transformadores das últimas décadas.
Mais que conteúdos, ela propõe um reposicionamento da escola, convocando educadores a ampliar repertórios, revisar representações e promover práticas que reconheçam o protagonismo da população negra.
A Lei 11.645/2008 reforça esse compromisso ao incluir também história e cultura indígena no currículo.
Socioemocional como alicerce do pertencimento
A Educação Socioemocional contribui decisivamente para essa pauta.
Competências como autoconsciência, empatia, manejo das emoções e construção de relações saudáveis não se desenvolvem plenamente em ambientes que silenciam identidades.
Ao contrário: florescem em espaços que oferecem segurança, acolhimento e reconhecimento elementos essenciais para o aprendizado e para a permanência escolar.
Trabalhar Consciência Negra ao longo de todo o ano significa assumir que a escola é parte de uma comunidade viva, atravessada por histórias, vínculos e memórias.
Compromisso do Instituto Hortense
É nesse horizonte que o Instituto Hortense reafirma seu compromisso.
Ao promover Educação Socioemocional, apoiar redes públicas e estimular práticas pedagógicas que ampliam repertórios e qualificam relações, o Instituto contribui para escolas mais justas, sensíveis e comprometidas com a equidade.
Nossa missão é colaborar para que cada criança e adolescente tenha acesso a um ambiente educativo que reconheça sua história, valorize sua identidade e garanta condições concretas para seu desenvolvimento integral.
Referências:
- Lei 10.639/2003 – Ensino obrigatório de história e cultura afro-brasileira.
- Lei 11.645/2008 – Amplia para história e cultura afro-brasileira e indígena.
- Anuário Brasileiro da Educação Básica 2024 – Dados sobre alfabetização e desigualdades.
- PNAD Contínua 2023 – Indicadores educacionais com recorte racial.
- UNICEF & ANDI 2023 – Levantamento sobre exclusão escolar.
- Produção de autores como Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalez e Paulo Freire.
Autoria:
Por Ana Carolina de Oliveira
Consultora Educacional do Instituto Hortense
Ana Carolina de Oliveira é psicóloga formada pela Faculdade Sul Fluminense (2016), com especialização em diversidade, relações étnico-raciais, acessibilidade e inclusão. Atua como consultora educacional, formadora de professores e coordenadora de projetos sociais. Possui experiência na condução de rodas de conversa, formações e consultorias voltadas para equidade racial, inclusão e desenvolvimento socioemocional.
